HIPERTENSÃO = MUITA TENSÃO?

A hipertensão
arterial representa um dos principais fatores de risco para as doenças
cardiovasculares, que são a principal causa de morte em nosso meio. A
concomitância de distúrbios psicológicos, como ansiedade e depressão em
hipertensos pode ter papel na determinação da aderência ao tratamento
anti-hipertensivo

            Falar sobre aspectos psicossomáticos
nos dias atuais é tratar de um assunto talvez tão antigo quanto a própria
humanidade. As ligações entre corpo e espírito foram e continuam sendo um tema
fecundo e controvertido. É como se todos concordássemos que as emoções, de
algum modo, repercutem no corpo mas, ao mesmo tempo, não soubéssemos explicar o
fato; ou, quem sabe, não o aceitássemos.

Situações de
ansiedade (ou estado de tensão interna ante algo que “ameaça” o indivíduo)
estimulam a liberação de algumas substâncias no nosso organismo, sendo que
existem alguns efeitos dessas substâncias que podem repercutir sobre o aparelho
cardiovascular, tais como elevação da frequência cardíaca, elevação da pressão arterial,
retenção de sódio e água, aumento de ácidos graxos e colesterol, dentre outros.
Vários estudos têm evidenciado que situações ansiogênicas ou estressantes fazem
com que nosso organismo libere substâncias que afetam o sistema cardiovascular.

Cada pessoa
reage de forma diferente ao estresse, e a elevação da pressão arterial parece
depender da avaliação pessoal que o indivíduo faz de uma dada situação. Desse
modo, podemos compreender que, face às mesmas situações, os indivíduos reagirão
de forma diferente conforme seu modo peculiar de avaliar as situações, o que,
por sua vez, dependerá diretamente da história e circunstâncias de suas vidas.
O que é estressante para um, pode não ser para o outro. O modo de enfrentar a
situação é particular a cada indivíduo, conforme sua história e meio onde vive.

A forma mais
elaborada de enfrentamento é a de podermos encarar dada situação
conscientemente, objetivamente, podendo sobre ela falar, discutir, refletir,
aceitando-a ou superando-a conforme suas características e os recursos à nossa
disposição. Quando isso não é possível, seja porque o problema não é
consciente, seja porque não está podendo ser pensado ou falado, seja porque
faltam recursos disponíveis, a tendência será a de lançar mão de outras formas
de enfrentamento, tais como mentais (fantasiar, racionalizar, negar, rezar);
emocionais (deprimir-se, agredir, culpar ou culpar-se, chorar, gritar);
atitudinais (isolar-se, exibir-se, brincar, arriscar-se); aditivas (comer,
beber, transar, fumar, trabalhar excessivamente); ou somáticas (adoecer). O
indivíduo então fala com o corpo e com ele se defende. Com o corpo ele obtém
atenção e cuidados; com o corpo ele exprime seus desejos e fantasias; com o
corpo ele enfrenta as situações estressantes e provavelmente com o corpo também
ele se recrimina e se culpa.

Apesar de
termos sido constituídos para conviver constantemente com situações de
estresse, doses excessivas (intensas e prolongadas) podem trazer sérios
problemas psicológicos e físicos. Quando fora de controle, as situações de
estresse podem interferir e influenciar em nossas atividades diárias. Sob
estresse, problemas como insônia, dores de cabeça, problemas estomacais,
ansiedade, depressão e problemas cardiovasculares podem surgir ou ser agravados
seriamente.

O que a
pessoa é nos dias de hoje é o resultado das inúmeras experiências a que ela foi
submetida no decorrer de sua história. Quando uma pessoa reage aos diversos
impactos a que está submetida em seu cotidiano, carrega nesse processo uma
volta ao equilíbrio. Mas estes impactos fazem parte de sua vida, e as tensões
que eles provocam podem deixar marcas e modificar seu corpo, para sempre.

 

Andréia Klein
Stein

Psicóloga
Clínica e Hospitalar do Programa CAPS I